sábado, 9 de março de 2013

The Beach Boys - Pet Sounds



















Título: Pet Sounds
Artista: The Beach Boys
Ano de lançamento: 1966
Gênero: Rock psicodélico / Pop rock / Pop barroco
Duração: 35:57



Tracklist:


1. Wouldn't It Be Nice (2:25)
2. You Still Believe In Me (2:31)
3. That's Not Me (2:28)
4. Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder) (2:53)
5. I'm Waiting For The Day (3:05)
6. Let's Go Away For A While (2:18)
7. Sloop John B (2:58)
8. God Only Knows (2:51)
9. I Know There's An Answer (3:09)
10. Here Today (2:54)
11. I Just Wasn't Made For These Times (3:12)
12. Pet Sounds (2:22)
13. Caroline, No (2:51)


Era apenas uma questão de tempo até eu postar uma resenha desse clássico absoluto dos Beach Boys. Eu estou lidando aqui simplesmente com minha primeiríssima escolha para um disco de ilha deserta, o único em meu Top 5 a nunca perder o seu posto, e isso não é dizer pouco. E não estou sozinho na admiração febril dessa obra de arte, Pet Sounds é considerado dentre todos os apreciadores de música pop como uma pedra angular desse gênero no século XX. O álbum figura em inúmeras listas de publicações especializadas como sendo um dos melhores discos de todos os tempos e ele permanece até hoje como um clássico da música dos Estados Unidos.
Dizer tudo isso dos Beach Boys é simplesmente fazer jus ao seu incrível legado: formado em 1961 e ainda na ativa nos dias de hoje, o grupo escreveu parte da história da música ocidental ao lado dos Beatles. Mencionando os garotos de Liverpool, é uma ideia bem difundida de que essas duas bandas formaram uma das "rivalidades" mais produtivas e criativas da música popular desde a década de 1960. Enquanto o fab four construía seu legado tocando covers de rock'n'roll pela Inglaterra e Alemanha, os "garotos da praia" começavam a pegar seus instrumentos para celebrar o espírito do doo wop dos anos 1950 aliado ao fresco som do rock'n'roll que mobilizava muitos dos jovens. Na Califórnia, desenvolveu-se então a surf music, a cultura da praia, dos carros envenenados, do individualismo e da rebeldia. Enquanto isso, na Inglaterra, os Beatles passaram a experimentar imensamente com a música e trazer o misticismo da música indiana para o cenário pop a partir de Rubber Soul (1965). Brian Wilson e sua trupe então pegaram o exemplo e decidiram sair do ordinário e transformar a música pop em algo grandioso, com um valor artístico digno das grandes obras da música erudita dos séculos passados. Pet Sounds então foi concebido dentro da mentalidade de Wilson de produzir um som incrementado e diferente de tudo que estava sendo feito à época. As sessões para gravar o disco contaram com o assustador número de mais de 60 músicos, fora os seis Beach Boys originais. Brian Wilson contava com uma orquestra completa ao seu alcance e uma infinidade de instrumentos pode ser ouvida dentre as pequenas jóias desse trabalho, dentre eles o exótico theremin elétrico.
Um dos principais motivos da incrível longevidade de Pet Sounds são os temas tratados em suas canções: por trás da roupagem sofisticada e colorida de todos os instrumentos presentes, as letras abordam assuntos universais a qualquer jovem, a dizer, a paixão, o amor, a traição, a decepção amorosa e, sobretudo, um senso de deslocamento em relação à sociedade vigente e seus valores, a inquietude e a vontade de fugir com a pessoa amada e não mais voltar, está tudo ali. São temas que continuam a reverberar na mente mesmo de jovens dessa geração tão diferente dos anos 1960. Ter essas letras cantadas nas sublimes harmonias vocais dos Beach Boys explica muito do sucesso desse trabalho. Como não poderia ser diferente, tal obra de arte merece uma resenha faixa-a-faixa. Vamos lá:

1. Wouldn't It Be Nice
Talvez a mais reconhecível das canções do disco, a faixa de abertura já apareceu em diversos filmes e seriados de TV. Seu riff de abertura tocado por uma guitarra de 12 cordas é uma das peças mais conhecidas dos Beach Boys, até por aqueles que não conhecem muito a banda. O tema da canção é bastante direto: "Não seria legal se fôssemos mais velhos e não tivéssemos que esperar tanto?". É o retrato de um jovem casal impaciente que não quer saber de mais nada, só de viver seu amor ingênuo e completo. Difícil ser mais puro e sincero do que as juras de amor nessa bela peça de música!

2. You Still Believe In Me
A introdução tocada por um harpsichord acompanhada pelo belo falsete de Brian Wilson traz uma canção mais melancólica, um assunto delicado: uma garota ainda acredita cegamente em seu amor, mesmo após todas as coisas ruins que este a fez. O amor não correspondido e o sofrimento são os temas centrais dessa música de cortar o coração. Detalhe: a buzina de bicicleta presente no finalzinho da música é uma das coisas mais emocionantes que já passaram pelos meus ouvidos.

3. That's Not Me
A primeira das canções a tratar do tema da sensação de deslocamento. "Eu queria mostrar o quão independente eu havia me tornado, mas esse não sou eu", um grito de sinceridade, uma forma de lutar contra o inevitável processo de envelhecimento. O medo que se tem ao descobrir que se está mudando e que talvez não seja hora ainda de assumir todas as responsabilidades que a vida adulta reserva.

4. Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder)
Uma clássica canção de amor, a mais tranquila e lenta do disco. A sensação de conforto e tranquilidade que provoca o contato físico entre dois amantes, o amor ingênuo e puro, uma garota pousando sua cabeça no ombro de seu namorado, dois companheiros se ajudando na difícil tarefa de crescer.

5. I'm Waiting For The Day
A canção começa com uma batida enérgica no tímpano e se desenvolve com uma linda melodia vocal acompanhada por um órgão. Mais tarde entram as harmonias vocais embasbacantes e precisas, um solo de flauta, é tanta coisa acontecendo que descrever é um esforço gigantesco. O assunto aqui é a tentativa de aproximação com uma pessoa que perdeu sua fé no amor momentaneamente por alguma desilusão passada. "Estou esperando o dia quando você poderá amar de novo" é uma prova de paciência e romantismo, uma linda música.

6. Let's Go Away For A While
Um instrumental, algo não muito comum de se encontrar em um disco pop, uma canção com uma atmosfera relaxada, um xilofone dominando o cenário, a mensagem está no próprio título da música, "vamos embora por um tempo" em busca da paz interior.

7. Sloop John B
Aqui temos uma música folk tradicional do Caribe rearranjada por Brian Wilson e Al Jardine. É mais uma canção bastante reconhecível da banda, um conto de um marinheiro que acaba fazendo uma terrível viagem de barco e passa o tempo inteiro querendo regressar a sua casa. A maestria das harmonias vocais de Brian Wilson e Mike Love nem deixam transparecer o caráter lamentador da canção, dando a ela um ar mais esperançoso. Uma linda canção sobre uma péssima viagem.

8. God Only Knows
Ah sim, sempre deve haver uma queridinha, e aqui está ela. A canção que figura no topo da lista de canções preferidas de Sir Paul McCartney e minha favorita de todas. Uma das primeiras peças de música pop dos anos 1960 a usar o nome Deus em seu título, essa canção condensa tudo o que há de mais sublime nos Beach Boys: um arranjo orquestral maravilhosamente executado, uma linha de voz altamente contagiante e sentimental cantada por Carl Wilson e harmonizações vocais impossíveis de descrever. Com letras como "eu posso não te amar para sempre, mas enquanto houver estrelas acima de você, você não precisa duvidar disso, eu vou fazer com que você tenha certeza disso, só Deus sabe o que eu seria sem você", não é difícil pensar que o auge do liricismo já foi atingido e é inútil tentar superar essa proeza. Se tem algo que eu sei, é que eu poderia ouvir os últimos 50 segundos dessa música em um loop infinito até o final de meus dias e não enjoaria nem um pouquinho. É o poder da música personificado em 2 minutos e 51 segundos, a perfeição.

9. I Know There's An Answer
Um ritmo contagiante marca essa canção e um refrão emocionante mostram uma filosofia mais individualista, marca dos americanos. "Eu sei que há uma resposta, eu sei agora, mas eu tive que descobrir por conta própria" é um convite à auto-exploração.

10. Here Today
Mais uma reflexão sobre o amor, dessa vez mais analítica, questionando tudo de bom e de ruim que pode trazer um relacionamento amoroso. Wilson parece dar conselhos, dizendo que no começo as coisas são sempre lindas, mas é bom tomar cuidado pois tudo isso pode trazer muita dor e tristeza no futuro. O pensamento se resume no refrão "Você tem que manter em mente, o amor está aqui, hoje ele se foi, amanhã ele está aqui e foi embora tão rápido", um sentimento que viaja verdadeiramente acima da velocidade da luz.

11. I Just Wasn't Made For These Times
A declaração descarada de incompatibilidade com os tempos em que o eu lírico habita. "Acho que eu simplesmente não fui feito para esses tempos" é algo que certamente muitos jovens já disseram e repetiram nesse mundo desde que essa música foi escrita e até antes disso. A incapacidade de assimilar tantas mudanças provocam tristeza, confusão e causam uma vontade enorme de retornar a tempos mais simples e o passado é certamente uma terra atraente para os nostálgicos, assim como o futuro o é para os sonhadores. Brian Wilson está aqui, de certa forma, atestando sua genialidade ao escrever e compor obras de arte tão à frente de seu tempo.

12. Pet Sounds
O segundo instrumental do disco é uma pequena e estranha peça de música. Uma guitarra de timbre curioso desfila solos por cima de uma percussão simples com pandeiros e reco-recos. A melodia é cativante e possui uma aura tão exótica, sendo para mim a maior música psicodélica de elevador da história humana.

13. Caroline, No
A canção de encerramento de Pet Sounds é uma belíssima canção feita, bem, para uma mulher. Caroline foi uma garota que certamente magoou bastante o eu lírico da música. "Oh Caroline, você quebra o meu coração, eu quero ir e chorar, é tão triste assistir a uma coisa doce morrer" é cantado em um emotivo falsete por Brian Wilson. Uma canção triste, o arquétipo da decepção amorosa, a tristeza e a dificuldade em aceitar a rejeição após tantos bons momentos, todos temas que tenho certeza que já ocorreram com muitas pessoas nesse nosso mundo.


O legado de Pet Sounds é inegável. Também não é exagero nada do que foi escrito aqui acima, exceto talvez por uma ou outra considerações pessoais minhas, mas, ei, é o que nos faz especiais! Não preciso provar nenhum argumento com esse maravilhoso disco, apenas sei que é uma delícia poder compartilhar o amor que tenho a ele com vocês. Tive a honra e o imenso prazer de presenciar os Beach Boys ao vivo em São Paulo no dia 2 de dezembro de 2009 em sua primeira apresentação em terras tupiniquins e, devo dizer, ouvir essas joias ao vivo executadas por seus criadores foi uma sensação única que guardo com carinho em meu coração até hoje. No final do dia, o que importa mesmo é o que você deixa para trás e uma vida bem vivida é uma vida que tenha tido contato com Pet Sounds. Um conjunto de músicas que é obrigatório a todos os amantes da boa música lançadas há 47 anos e que não envelheceram nem um segundo desde então. Isso, meus amigos, é a imortalidade da arte.
Boa escutada! (é só clicar nos títulos das músicas)


Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

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