terça-feira, 30 de abril de 2013

Rush: Bodas de Zinco

Uma quebra de protocolo no Fazenda Submarina!
Hoje posto aqui um texto puramente autobiográfico e pessoal: minhas bodas de Zinco com o Rush.
Não deve ser um espanto para ninguém meu amor por essa banda e já estou há alguns meses planejando escrever esse "artigo" e aqui está o resultado. Espero que apreciem e peço desculpas pela falta de atualizações no blog nas últimas semanas!



2013: minhas bodas de zinco com o Rush

2013 marca dez anos desde que me tornei um fã incondicional do Rush. Às vezes não me cai a ficha que já se passou tanto tempo desde a primeira vez que ouvi o som do maior power trio do planeta. Foram dez anos que se constituíram em grande parte de bons momentos (e alguns apoteóticos!), durante os quais influenciei amigos, familiares, conhecidos e colegas a darem uma chance para a música e a arte dessa incrível banda. Consegui com sucesso, inclusive, converter alguns amigos a verdadeiros fãs dos caras e isso é algo de que me orgulho muito.

Alex Lifeson, Neil Peart e Geddy Lee na cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame em abril de 2013

O Rush me foi apresentado pelo meu irmão mais velho que, com paciência e entusiasmo me mostrou alguns dos sucessos da banda aos quais eu reagia negativamente. Na época eu tinha por volta de 11, 12 anos de idade e me lembro de fazer graça da voz do Geddy Lee por ser muito aguda e heterodoxa. Estava aos poucos me interessando pelo classic rock e gravava CDs de coletâneas com músicas do Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Guns’n’Roses e até Red Hot Chilli Peppers. Meu primeiro amor no rock’n’roll, no entanto, foi com os Ramones, uma fixação que me levava a ouvir as músicas repetidamente todos os dias, fui até a Galeria do Rock comprar um pôster dos caras e uma penca de camisetas, adesivos, patches etc. E assim permaneceu intacta minha devoção ao punk simplista e enérgico dos Ramones até eu conhecer o Rock Progressivo. Foi como se um interruptor se ligasse dentro de mim e eu pudesse ver que a música, por mais bacana que fosse do jeito tosco dos Ramones, podia me levar a lugares que nunca tinha ido antes através dos arranjos magistrais e complexos de bandas como Emerson, Lake & Palmer, Yes, King Crimson e Pink Floyd. Talvez tenha sido aí que uma válvula em minha alma tenha permitido com que eu escutasse as músicas do Rush com a mente mais aberta. E, a partir daí, não teve jeito. As primeiras memórias que tenho são de tardes e noites em claro escutando Limelight, Red Sector A, Tom Sawyer e Time Stand Still incessantemente, enquanto mexia no computador. Quando começaram a aparecer MP3 players no mercado a preços acessíveis, comprei um no extinto Stand Center e carregava seus “impressionantes” 128 MB de memória com músicas do Rush, apenas. Lembro muito vividamente de escutar Red Barchetta pela manhã a caminho da escola dentro da van, assistindo o sol de levantar preguiçosamente no horizonte cinza-ocre de São Paulo. Aquilo me enchia de uma alegria inexplicável. O ano era 2003 e algo em minha cabeça não me deixava conseguir dormir: o Rush tinha vindo menos de um ano antes ao Brasil para sua primeira turnê aqui em quase 30 anos de banda, fazendo três shows monstruosos e memoráveis no país. Eu havia perdido uma chance incrível de assistir meus (agora) novos ídolos. Lugar certo, hora errada. Bem, para minha sorte, o DVD Rush In Rio sanou quase toda minha curiosidade e ansiedade ao documentar o show dos caras no Rio de Janeiro, com 40.000 fãs ensandecidos cantando a plenos pulmões nota por nota. A partir desse dia, cada aniversário que eu fazia, ao soprar as velinhas, confesso que fechava os olhos e pedia para a banda voltar para o Brasil pelo menos mais uma vez. Eu esperei sete anos por isso.

Show do Rush no Estádio do Morumbi (08/10/2010)


Muitas vezes eu me pego pensando que nasci na época errada e imagino como seria se eu fosse de outra geração e tivesse tido a oportunidade de acompanhar a carreira do Rush. Bem, eu sou muito jovem para me lembrar do tema da série do MacGyver na TV Globo e mais jovem ainda para me lembrar do estouro que foi o Moving Pictures. No entanto, hoje posso dizer que tenho sorte de estar vivendo um dos melhores momentos que um fã do Rush pode viver. O anos de 2010 me trouxe meus 19 anos de idade e a melhor notícia da minha vida: o Rush voltaria ao Brasil em outubro com sua turnê Time Machine tocando o Moving Pictures na íntegra. Desnecessário dizer, paguei o quanto foi preciso pelo melhor setor disponível e me queimei durante dez horas no sol na fila no Morumbi para pegar um lugar na grade bem na frente do Alex Lifeson. Foi o dia mais feliz da minha vida. O ano de 2011 me deixou mais velho, mas mais feliz ainda pelo lançamento do documentário Beyond The Lighted Stage, com projeção nos cinemas de São Paulo. O filme trouxe uma maior notoriedade à banda e me sentia cada vez mais orgulhoso de fazer parte dessa história. Como se não bastasse, a banda anunciou que trabalhava em seu 20º disco de estúdio, um de seus projetos mais audaciosos. E 2012 trouxe a cereja do bolo: Clockwork Angels foi lançado e tive a maravilhosa oportunidade de assistir a dois shows de sua turnê nos Estados Unidos, uma sensação indescritível e única. Passou rápido demais. E, quando pisco os olhos, já é 2013 e o Rush é finalmente contemplado no Rock and Roll Hall of Fame após ser esnobado por mais de uma década. A mídia e os “experts” do rock parecem ter se curvado diante da legitimidade do trabalho da banda e do fervor de seus fãs. Um feito que parece bobo e meramente festivo, mas significa uma vitória daqueles que nunca deixaram frivolidades ou decepções cobrirem seu verdadeiro amor ao trabalho sincero do power trio canadense. Diante desse cenário, não posso reclamar de não ter nascido em meados dos anos 1960. Tenho a bênção de ter nascido nos anos 1990 e poder me deleitar com décadas de boa música do Rush com o bônus de ver seu esforço finalmente reconhecido pelo mainstream. É uma ótima sensação.

Gostar de Rush virou cool. Quem diria?


Foram dez anos turbulentos nos quais expandi meu gosto musical enormemente. Aprendi a gostar de um pouquinho de tudo, me tornei mais especializado, mais culto e mais tolerante. Aprendi a tocar teclado, violão, guitarra, tive outras paixões musicais, fiquei tempos sem escutar o Rush, mas nunca deixei de sentir o que senti pela primeira vez em 2003. É um nível de identificação que sinto que levarei para o resto da vida, como vejo em casos de muitos fãs mais velhos do que eu. É um respeito e admiração somados a um orgulho e uma vontade ser melhor e se superar, sempre se espelhando nos meus mestres. É muito mais do que apenas canções de rock, são letras e poesia, filosofia, questionamento, admiração da vida, crítica à sociedade, valorização dos sonhos, da individualidade, da crença no futuro e do estudo do passado. O Rush é um conjunto de seres humanos que me abriram as portas para pensar mais criticamente, sentir mais fundo com a alma e exercitar uma espécie de fanatismo saudável. São três pessoas que provavelmente não sabem de minha existência, mas que provavelmente sabem que a abalaram. O Rush é minha banda favorita há uma década já e permanecem como meu modelo de vida, íntegros, gentis e trabalhadores. Tenho muito a agradecer e comemorar nessas bodas de zinco. E que venham mais dez anos!

Rush nos anos 1970


Rush nos anos 1980



Rush na Time Machine Tour




Brought to you by the letter "F"


Aquele abraço,
Fazendeiro submarino