quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Atoms for Peace - AMOK

Título: AMOK
Artista: Atoms for Peace
Ano de lançamento: 2013
Gênero: Rock alternativo/experimental/eletrônico
Duração: 44:35


Tracklist:


1. Before Your Very Eyes... (5:47)
2. Default (5:15)
3. Ingenue (4:30)
4. Dropped (4:57)
5. Unless (4:40)
6. Stuck Together Pieces (5:28)
7. Judge, Jury and Executioner (3:28)
8. Reverse Running (5:06)
9. Amok (5:24)


Resolvi dar uma variada e escrever uma resenha de um álbum novinho em folha, caso haja algum leitor antenado, moderno e descolado por aqui!
Nesse caso, o álbum é AMOK, do recém-criado "supergrupo" do vocalista do Radiohead, Thom Yorke. O nome do grupo é Atoms for Peace e a origem de seu nome é de um discurso do Presidente americano Dwight Eisenhower em 1953 à Assembleia Geral das Nações Unidas, proclamando o início de uma "era nuclear", na qual se buscaria a paz nesses termos.
Yorke reuniu nesse grupo o baixista do Red Hot Chilli Peppers, Flea, Nigel Godrich, produtor de longa data do Radiohead, Mauro Refosco, um percussionista brasileiro e Joey Wronker nas baquetas.
Aqueles não acostumados com os sons criados pelo frontman do Radiohead certamente irão estranhar esse denso disco. As músicas seguem o minimalismo pelo qual é conhecido o trabalho solo de Thom Yorke. Em 2006, ele lançara The Eraser, seu primeiro disco solo, uma coleção de músicas com forte influência eletrônica em suas batidas e grooves e a presença esparsa de uma linha de guitarra muito próxima ao que se ouviria em algum disco do Radiohead. O tempo passou e Yorke decidiu que formaria uma banda para tocar ao vivo as músicas que havia escrito até então. O Atoms for Peace chegou a tocar em seus show a música Lotus Flower, que acabou sendo lançada no último disco do Radiohead, The King of Limbs, em 2011.
Este, porém, é o primeiro trabalho "coletivo" do grupo, com os músicos recriando as músicas eletrônicas que Yorke havia composto. O resultado é uma linha tênue entre a música física, concreta e tocada por instrumentos e a música eletrônica, computadorizada, programada. Aqui o espaço é bem limitado e cada instrumento sabe o que está fazendo, de maneira repetitiva, o que talvez decepcione o ouvido mais sedento por diversidade ou extrapolação de criatividade. É, de fato, uma espécie de som único, os vocais em falseto banhados em reverb passeando sobre sintetizadores e linhas de baixo cheias de grooves e precisão. As letras ininteligíveis de Yorke são um bônus à parte: os acostumados a esse fato já nem ligam tanto, apenas correm para ler o encarte do disco. Mas certamente as letras não são o centro das atenções nesse trabalho, as canções são um convite à abstração em suas atmosferas espaciais e, por vezes, bastante dançantes.
Thom Yorke está na altura de sua carreira em que não precisa dar satisfações sobre seus projetos e sabe que conta com uma base de fãs fidelíssima. Tão confiante é o cantor/compositor que se dá o luxo de lançar um clipe como esse (mesmos diretores de coreografia do clipe de Lotus Flower, por sinal). Eu, pessoalmente, aprecio imensamente o senso de Yorke de "dançar como se ninguém estivesse olhando", um fato considerável para uma figura tão popular e chamativa como ele.
As músicas que consigo destacar são, primeiramente, os dois singles, Default e Judge, Jury and Executioner. As belas melodias na primeira música remetem ao trabalho de Yorke no Radiohead e o ritmo hipnotizante da segunda proporciona aquela familiar sensação de claustrofobia que as canções solo de Yorke geralmente provocam. Ingenue, que teve seu clipe aqui supracitado, traz um riff de sintetizador repetitivo e viciante e é outra recomendação de minha parte.

Em suma, AMOK, parece ser um disco polarizador: ou se gosta ou não se suporta. Meu interesse pelo trabalho de Thom Yorke vem de longa data, já que sou fã de carteirinha do Radiohead e respeito enormemente todos os músicos do grupo, logo é um disco que "desceu fácil" para mim. Não sei se esse álbum trará muitos fãs novos, mas certamente agradou a fãs antigos e sua peculiaridade é uma grande adição aos discos lançados até agora este ano. Que tal experimentar esse experimentalismo?


Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Neil Young - Prairie Wind


















 Título: Prairie Wind
 Artista: Neil Young
 Ano de lançamento: 2005 
 País: Canadá
 Gênero: Country rock / Folk rock
 Duração: 52:05


Tracklist:


1. The Painter (4:36)
2. No Wonder (5:45)
3. Falling Off the Face of the Earth (3:35)
4. Far From Home (3:47)
5. It's A Dream (6:31)
6. Prairie Wind (7:34)
7. Here for You (4:32)
8. This Old  Guitar (5:32)
9. He Was The King (6:08)
10. When God Made Me (4:05)


Hoje é dia de falar sobre Neil Young!
Esse lendário músico canadense sinceramente dispensa quaisquer apresentações. Desde meados dos anos 1960, Neil Young é uma presença constante no mundo da música, tendo, ao longo dos anos, transitado com sucesso entre o folk, o country, o rock de arena e até a música eletrônica. Young é um artista irrequieto, sendo o líder da banda Crazy Horse e tendo feito um álbum em parceria com o Pearl Jam. Os que são familiarizados com o músico, sabem que este não dá a mínima para o que os outros dizem sobre seu trabalho. Ele apenas o faz de coração, e daí surgem diversos sentimentos como raiva, angústia, nostalgia, crítica, romance, entre outros.
Em Prairie Wind (2005), vemos um Neil Young já mais velho e nostálgico. Seu último álbum de estúdio havia sido Greendale, uma ópera-rock e uma série de eventos levou à concepção do álbum sobre o qual aqui escrevo. Neil havia recentemente perdido seu pai, Scott Young que, em seus últimos anos, sofrera com demência. Scott Young fora um famoso escritor canadense e o agravamento de sua sáude mental afetara fortemente seu filho Neil. Para completar, o músico descobrira que havia um aneurisma em seu cérebro e que uma cirurgia seria necessária. Foi aí que teve a ideia de juntar as malas e ir para Nashville, Tennessee, para gravar um álbum acústico. É sabido que Nashville é considerada a Meca da música country nos Estados Unidos, e Neil se cercou dos seus melhores amigos músicos para produzir um álbum digno da cidade em que pisava. Os temas abordados nesse álbum giram, inevitavelmente, ao redor da figura do pai de Neil e da percepção do músico de sua própria mortalidade. As letras revelam um toque de amargura e nostalgia nas palavras de Young. Em The Painter, ouvem-se as palavras "If you follow every dream, you might get lost" ("Se você seguir todos os sonhos, você pode se perder"). Contudo, a instrumentação em Prairie Wind é simplesmente deliciosa. Violões de aço são acompanhados por uma percussão simples e vira-e-mexe entra em cena o maravilhoso pedal steel de Ben Keith, dando um toque country irresistivelmente confortável.
Neste álbum, Neil Young resgata seus sons mais simplórios que ganharam notoriedade em álbuns premiados como Harvest (1972) e After the Goldrush (1973). A veia country é explícita e Neil utiliza afinações em Ré para produzir canções simples, porém cheias de sentimento. A forte aversão de Young pela "era Bush" dos Estados Unidos se torna evidente em alguns momentos do álbum, mas o tema principal gira em torno do Canadá e suas pradarias ("prairies"). Em Far From Home, o músico demonstra seu desejo de ser enterrado em sua terra natal, onde "os búfalos pastam na pradaria e os gansos canadenses preenchem o céu". Uma das músicas mais frágeis e explicitamente dedicadas ao pai de Neil é Falling Off the Face of The Earth, uma canção singela de cortar o coração. Na faixa-título do álbum, o country cede um pouco de espaço ao folk rock, com a gaita tão famosa de Neil Young solando aqui e ali, acompanhada por um conjunto de metais. As notórias melodias vocais que se tornaram marca registrada do artista são beneficiadas pela beleza das vozes da convidada Emmylou Harris e a esposa de Neil, Pegi Young.
Minha canção queridinha desse disco é a quase clichê Here for You. Nos dois primeiros segundos da música, já se sabe que se trata de uma música de Neil Young. O violão de aço acompanhado pela gaita e pelo steel pedal evocam dias mais simples (os quais nem vivi, leia-se), uma atmosfera bucólica do interior norte-americano. A letra romântica não perde nem um pingo de seu charme devido a sua obviedade, sendo essa um ponto a mais. A canção se beneficia também de belas orquestrações de cordas em seu interlúdio até voltar a um solo saudoso de gaita de Young. É um convite sincero à não-reflexão, a uma bela espreguiçada e à admiração de uma atmosfera de pura beleza e paz.
Neil faz duas homenagens em especial nesse disco. A primeira é a um de seus violões, que já pertencera a Willie Nelson, na calma canção This Old Guitar. A segunda é uma homenagem descarada a Elvis Presley, na canção He Was The King: Neil canta "The last time I saw Elvis, he was riding a pink Cadiilac" ("A última vez que eu vi Elvis, ele estava dirigindo um Cadillac rosa") e muitas outras memórias são compartilhadas ao longo da canção.
A canção de encerramento de Prairie Wind é When God Made Me. Aqui, ouvimos Neil ao piano, altamente reflexivo, numa música que pode ser rotulada como gospel sem medo algum. Um coro acompanha o músico nos refrões, enquanto os versos questionam a benevolência ou mesmo a consciência de Deus. Neil traz um questionamento ao Criador sem negar sua existência, em uma mensagem de reconciliação consigo mesmo. Tal canção encerra de forma digníssima o disco, de certa forma o resumindo os pensamentos do artista e os direcionando na forma de perguntas a Deus.

Aqueles que nunca tiveram a oportunidade de experimentar a beleza da música country tradicional têm meu sincero conselho de ouvirem esse disco, assim como os clássicos Harvest e After The Goldrush. Neil Young é um artista que pode não ser unânime, mas certamente não pode ser ignorado. Qualquer músico que produza um disco resgatando uma sonoridade com 40 anos de idade e que consiga fazê-la fresca e convidativa merece atenção e respeito. As atmosferas que permeiam Prairie Wind o fazem um de meus "discos para uma ilha deserta" e não há motivos para um amante de boa música não apreciá-lo.


Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Peter Gabriel 3 (Melt) (Whole Album) (HQ)

Peter Gabriel - III (Melt)



















Título: III (ou "Melt")
 Artista: Peter Gabriel
 Ano de lançamento: 1980
 País: Inglaterra
 Gênero: Rock Experimental / Rock Progressivo / New Wave / Worldbeat
 Duração: 45:32


Tracklist:

1. Intruder (4:54)
2. No Self Control (3:55)
3. Start (1:21)
4. I Don't Remember (4:41)
5. Family Snapshot (4:28)
6. And Through The Wire (5:00)
7. Games Without Frontiers (4:06)
8. Not One Of Us (5:22)
9. Lead A Normal Life (4:14)
10. Biko (7:32)


Peter Gabriel é mais conhecido por ser um dos fundadores e frontman do Genesis, a lendária banda de Rock Progressivo que se tornaria nos anos 1980 uma das maiores bandas pop do mundo sob o comando do baterista Phil Collins. Devido a desavenças na banda, no entanto, Gabriel deixou o Genesis em 1975 após lançar álbuns que se tornariam clássicos do Rock Progressivo, como Foxtrot (1972) e Selling England By The Pound (1973).
Peter Gabriel começou sua prolífica carreira solo em 1977, sendo seus quatro primeiros discos batizados de I, II, III e IV, respectivamente, do mesmo modo que já havia feito o Led Zeppelin com seus primeiros discos. Todos os quatro álbuns tiveram suas capas assinadas pela Hipgnosis, famosa empresa que desenhou as capas dos principais álbuns do Pink Floyd, sob o comando de Storm Thorgerson.

O terceiro disco foi batizado de Melt pois Gabriel aparece com metade do rosto derretido na capa. O primeiro álbum solo do artista  foi muito bem sucedido, enquanto que o segundo não conseguiu acompanhar a popularidade. Em 1980 foi lançado III, um álbum bastante experimental lançado bem na inflexão da década de 1970, marcada pelo ritmo pulsante do Rock e do Punk, com a década de 1980, que traria o uso massivo de sintetizadores e novas tecnologias para os estúdios de gravação. E Peter Gabriel foi um dos pioneiros nesse processo com o lançamento de Melt. Foi montado um super time de músicos, incluindo participações do próprio Phil Collins, Robert Fripp, Tony Levin e Kate Bush e Gabriel foi bem categórico em pedir aos bateristas para não utilizarem nenhum prato em seus kits.
Um dos motivos de Peter Gabriel ser um de meus artistas favoritos é sua versatilidade e experimentação em termos de instrumentação e nos temas que aborda em suas letras, sempre buscando uma faceta menos óbvia dos assuntos que aborda e com um sentimentalismo verdadeiro e não forçado. Em Melt, o artista já mostra os traços de ativismo humanitário que seguirá pro resto da vida, em Biko, uma canção sobre o ativista sul-africano anti-apartheid Stephen Biko. Elementos da música africana e de outros lugares que fogem à tradição eurocentrista e tonal da música começam a permear o trabalho de Peter Gabriel e o seguem até hoje.
Uma coisa que não se espera de um disco de um artista famoso nos anos 1980 é uma música de abertura como Intruder. A música abre com uma batida tribal em uma bateria gravada com reverb, dando a ela uma impressão mais poderosa e sonora e Gabriel foi um dos pioneiros no uso dessa técnica. Em seguida, uma guitarra destila acordes dissonantes que fariam um padre da Idade Média correr por sua segurança. O objetivo da canção é justamente esse, criar tensão, afinal, trata-se de um eu lírico que gosta de invadir as casas de outras pessoas e roubar roupas femininas por prazer. O sujeito na música aprecia que a pessoa saiba que ele está ali. Sons de palhetas raspando em cordas de nylon complementam o clima sombrio dessa música apavorante. Gabriel está aqui mostrando as facetas obscuras da condição humana e o pavor que isso provoca em uma sociedade de consumo baseada na propriedade privada: a invasão do espaço pessoal e a violação de objetos pessoais na justificativa de saciar um desejo doentio. Não é um assunto comum de ser abordado em um disco de Rock, convenhamos.
Peter Gabriel ainda aborda outros temas da condição humana pouco vistos no meio da música popular: obsessão (No Self Control), uma metáfora sobre a guerra com crianças jogando jogos bobos (Games Without Frontiers), diferenciação e isolamento (Not One Of Us) e a fragilidade que desemboca no desespero (Family Snapshot). Esse belo álbum cumpre qualquer função da arte, se é que ela tem alguma: é um convite à reflexão da condição humana, emociona, alegra, dá vontade de dançar em alguns momentos, de chorar em outros, é, enfim, um microcosmo da vida dentro de ondas sonoras, resultado da dedicação e paixão de um verdadeiro artista. Uma obra de arte imperdível!



Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Big Star - #1 Record



















Título: #1 Record
 Artista: Big Star
 Ano de lançamento: 1972
 País: Estados Unidos
 Gênero: Power Pop / Pop Rock
 Duração: 37:03


Tracklist:

1. Feel (3:34)
2. The Ballad of El Goodo (4:21)
3. In The Street (2:55)
4. Thirteen (2:34)
5. Don't Lie To Me (3:07)
6. The India Song (2:20)
7. When My Baby's Beside Me (3:22)
8. My Life Is Right (3:07)
9. Give Me Another Chance (3:26)
10. Try Again (3:31)
11. Watch The Sunrise (3:45)
12. St 100/6 (1:01)


Fico muito feliz em escrever sobre o Big Star, pois esta é, na minha opinião, a banda mais subestimada da história do pop rock. Uma feliz descoberta de alguns anos atrás, o primeiro disco da banda, #1 Record (1972), figura entre meus favoritos de todos os tempos por suas melodias cativantes e arranjos maravilhosamente produzidos.
Expoentes do chamado Power Pop, gênero que se caracteriza por músicas mais curtas, acessíveis e de melodias marcantes sem perder a "pegada" do rock clássico, o Big Star surgiu em Memphis, Tennessee em 1971. Dentre suas principais influências, bandas da chamada British Invasion (The Kinks, The Beatles) e nomes americanos de peso como The Byrds e The Beach Boys. Daí percebe-se de onde vêm as inspirações para suas belas melodias combinadas com a energia do rock do final dos anos sessenta.

#1 Record é basicamente fruto de composições de Alex Chilton (falecido em 2010) e Chris Bell (morto em 1978 em um acidente de carro), tidos como os Lennon/McCartney da banda.
O disco abre com Feel, uma verdadeira porrada em uma clássica progressão de acordes de blues. Já de início se percebem os vocais muito bem executados por Chilton e Bell. O solo de guitarra nessa música é simplesmente um dos meus favoritos no rock'n'roll, por sua energia, simplicidade, entregando justamente o que se espera de um standard do blues rock.
The Ballad of El Goodo tem melodias imediatamente cativantes, quase que familiares ao ouvido inatento. Sendo, como o próprio título sugere, uma balada, esta canção mostra mais o lado pop da banda.
Os fãs da série de TV That 70's Show vão reconhecer logo In The Street, que é usada como abertura do programa, em uma versão mais pesada executada pelo Cheap Trick. Sem rodeios, é mais uma explosão de energia com vocais enérgicos e guitarras destilando riffs viciantes. Um clássico.
Thirteen, uma curta balada de dois violões acústicos na majestosa e frágil voz de Alex Chilton é uma das minhas favoritas no disco pois traz consigo um clima de paz e nostalgia indescritíveis.
Don't Lie To Me é um blues rock descaradamente pesado e desbocado. O velho tema da infidelidade conjugal é tratado com vocais aos berros e guitarras solando para todos os lados. A música ideal para os headbangers de plantão.
The India Song é a singela e bela contribuição do baixista Andy Hummel, uma canção bucólica com flautas e pianos em escalas exóticas, retratando uma vida simples e ideal em algum lugar calmo na Índia.
When My Baby's Beside Me novamente mostra a clássica receita do power pop, refrões pegajosos e repetitivos, imediatamente reconhecíveis.
My Life is Right mostra vocais afinadíssimos e uma introdução de piano de cortar o coração. O trabalho da bateria durante a música é preciso e enérgico, levando a música justamente onde ela precisa ir, sem perder o controle e sem causar monotonia.
Give Me Another Chance, um pedido de ajuda, mostra um lado mais melancólico do Big Star, um violão maravilhosamente gravado, novamente a voz de Alex Chilton sendo o destaque, junto com os backing vocals impecáveis. Com letras como "It's so hard just to stay alive each day" a banda mostra também a beleza pela tristeza. Essa pequena relíquia é coroada com a aparição de um Mellotron, um dos instrumentos mais fascinantes que já ouvi, precursor dos sintetizadores e principal responsável pelo som etéreo atingido por tecladistas em álbuns monstruosos como In The Court Of The Crimson King do King Crimson e Close To The Edge do Yes.
Try Again segue a mesma lógica da canção anterior, porém sem o mesmo brilho.
Watch The Sunrise é outra de minhas favoritas. O violão de doze cordas com afinação em Ré passeia nas escalas e produz um riff viciante, recorrente na canção. Certamente um destaque do disco.
O Big Star nos presenteia com uma última canção curtíssima, praticamente um fragmento, mas em seus 60 segundos de duração, St  100/6 mostra que o arsenal de belos acordes e melodias da banda certamente não estava acabando e assim, sem mais nem menos, esse pequeno disco se encerra, deixando uma saudade imediata e atestando a validade da Teoria da Relatividade para o tempo: serão 37 minutos de sua vida que passarão em sua cabeça em menos de 5 minutos.

O Big Star gravaria ainda mais dois discos antes de desistir de vez do show biz, apenas para realizar algumas reuniões no futuro. Mas essa pequena discografia foi o suficiente para inspirar futuros grandes nomes do pop rock, como o REM, o Teenage Fanclub e Wilco. A banda que pretensamente anunciava em seu nome a esperança do estrelato acabou por falhar em dominar o mundo, mas como toda boa arte, seu legado é perene e seus discos não ficam velhos jamais. Aproveite!




Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

Ressuscitação / Sigur Rós - ( )

Título: (  )
 Artista: Sigur Rós
 Ano de lançamento: 2002
 País: Islândia
 Gênero: Post Rock/Ambient/Art Rock
 Duração: 72:05


Tracklist:

1. Untitled #1 (6:38)
2. Untitled #2 (7:33)
3. Untitled #3 (6:33)
4. Untitled #4 (6:57)
5. Untitled #5 (9:57)
6. Untitled #6 (8:48)
7. Untitled #7 (12:52)
8. Untitled #8 (11:43)



Resolvi desenterrar o Fazenda Submarina e tirar a poeira das velhas resenhas de discos, as quais transmitem minha exata opinião até o dia de hoje! Após quase 4 anos, é com prazer que retorno a escrever sobre discos que me fascinam na esperança de compartilhar meu amor com quem se interessar em ouví-los.
E para essa ressurreição escolhi um disco soturno, mas certamente belíssimo!

O Sigur Rós é uma dessas bandas que, desde o seu começo, desafiou convenções. A começar pelo seu país de origem, a misteriosa e gelada Islândia. E aí está um adjetivo apropriado para descrever (  ): gelado.
Sendo o terceiro disco da banda e altamente antecipado após o sucesso estrondoso de Ágætis byrjun, de 1999, (  ) veio como uma surpresa que chegou a ser considerada por muitos à época como pretensiosa: um álbum cujo único título são dois parênteses contendo oito músicas sem título. Indo além, todas as músicas são cantadas em Vonlenska (ao pé-da-letra: Esperancês), uma língua inventada pela banda contendo apenas poucas sílabas que remetem à fonética do Islandês e as palavras não possuem nenhum significado. Justamente por isso, o encarte do CD vinha com um livreto em branco, onde o ouvinte era convidado a escrever suas próprias impressões sobre as músicas onde as letras deveriam estar. Algum consideraram genial, outros consideraram pedante. Não faltaram comparações com o Radiohead que, à altura, já tinham lançado seu polêmico Kid A havia dois anos, disco que significou uma ruptura brusca da banda com o rock "convencional" e trouxe elementos eletrônicos e temas mais sombrios.
(  ) também refletiu uma mudança no som do Sigur Rós. Seu disco antecessor mostrou a "cara" da banda, com os vocais agudos de Jón Birgisson, muito piano e atmosfera de teclados, quarteto de cordas e a famosa guitarra tocada com um arco de violino. Por ser um disco sem título com músicas sem título, é difícil definir os temas abordados pela banda em (  ). Mas sabe-se que as quatro primeiras músicas representam a metade mais "animada" do disco, enquanto que as quatro últimas músicas são mais melancólicas e obscuras.
Contudo, é difícil definir a primeira música do disco como animada. Na verdade ela apresenta os acordes mais tristes que essa pessoa que vos escreve já ouviu. O clipe da música apresenta crianças brincando em volta de um carro em um futuro apocalíptico que ostenta um céu vermelho e neve preta. Mas não se deve subestimar a incrível beleza e paz que tal música proporciona, quase que uma marcha fúnebre que acalenta o ouvinte.
A segunda música apresenta a guitarra em um papel mais proeminente, carregada de reverb, a bateria como sempre minimalista e precisa, assim como o baixo e a atmosfera lúgubre e angelical dos teclados de Kjartan Sveinsson e do quarteto de cordas Amiina.
Já emendando do último acorde da música anterior, Untitled #3 mostra uma progressão de acordes hipnótica sobre a qual uma frase de piano se repete infinitamente, variando sobre o mesmo tema. A música segue em um crescendo até morrer no final, sempre acompanhando a mesma progressão de acordes. Novamente, vemos melodias belíssimas e tristes que certamente não interessarão ao ouvinte que não estiver disposto em manifestar qualquer sentimento.
A quarta música se destaca por ter sido usada na cena final de Vanilla Sky, filme estrelado por Tom Cruise e Penélope Cruz que traz em sua trilha sonora outras músicas do Sigur Rós e do Radiohead. Certamente a mais esperançosa das músicas da primeira metade do disco, é quase que um convite a um passeio pelos céus nas asas de um anjo. Com melodias bem mais alegres, a beleza triste das três canções anteriores derretem e a jornada pela primeira metade do disco termina, acompanhada por meio minuto de silêncio, para que o ouvinte se acostume com o que está por vir.
Sobre a segunda metade do disco, comentarei apenas a última canção do disco, Untitled #8. Esta é um ótimo exemplo de uma típica (e ótima) música de Post Rock: um riff contagiante que se repete constantemente em uma longa música que apresenta diversos crescendos até uma explosão final, certamente a única parte do disco que se pode chamar de Rock, quase que um Punk atmosférico. Apelidada de "Popplagið" (Música Pop), é uma favorita nos setlists da banda, pois possibilita extenso uso de pirotecnia no palco. A pulsante bateria que toma conta da música a partir dos 6:20 dá início ao crescendo que explode finalmente três minutos depois, um gran finale grandioso (não consegui escapar da redundância) que se encerra com uma nota Mi grave da guitarra distorcida.

De maneira geral, por ser um disco muito climático e ambiental, não é de fácil digestão, pois se exige que o ouvinte esteja disposto a enfrentar seus 72 minutos de melodias angustiantes e minimalistas. Mas, se apreciado corretamente e no estado de espírito correto, esse belo trabalho se mostra digno de ser considerado um dos melhores discos da primeira década do século XXI. O Sigur Rós viria a lançar no futuro discos mais acessíveis e menos taciturnos, mas (  ) merece destaque por seu vanguardismo contestado e pelo universo melancólico e belo que cria ao redor daquele que o escuta.



Em breve, mais resenhas!

Aquele abraço,
Fazendeiro submarino