Título: Prairie Wind
Artista: Neil Young
Ano de lançamento: 2005
País: Canadá
Gênero: Country rock / Folk rock
Duração: 52:05
Tracklist:
1. The Painter (4:36)
2. No Wonder (5:45)
3. Falling Off the Face of the Earth (3:35)
4. Far From Home (3:47)
5. It's A Dream (6:31)
6. Prairie Wind (7:34)
7. Here for You (4:32)
8. This Old Guitar (5:32)
9. He Was The King (6:08)
10. When God Made Me (4:05)
Hoje é dia de falar sobre Neil Young!
Esse lendário músico canadense sinceramente dispensa quaisquer apresentações. Desde meados dos anos 1960, Neil Young é uma presença constante no mundo da música, tendo, ao longo dos anos, transitado com sucesso entre o folk, o country, o rock de arena e até a música eletrônica. Young é um artista irrequieto, sendo o líder da banda
Crazy Horse e tendo feito um álbum em parceria com o
Pearl Jam. Os que são familiarizados com o músico, sabem que este não dá a mínima para o que os outros dizem sobre seu trabalho. Ele apenas o faz de coração, e daí surgem diversos sentimentos como raiva, angústia, nostalgia, crítica, romance, entre outros.
Em
Prairie Wind (2005), vemos um Neil Young já mais velho e nostálgico. Seu último álbum de estúdio havia sido
Greendale, uma ópera-rock e uma série de eventos levou à concepção do álbum sobre o qual aqui escrevo. Neil havia recentemente perdido seu pai, Scott Young que, em seus últimos anos, sofrera com demência. Scott Young fora um famoso escritor canadense e o agravamento de sua sáude mental afetara fortemente seu filho Neil. Para completar, o músico descobrira que havia um aneurisma em seu cérebro e que uma cirurgia seria necessária. Foi aí que teve a ideia de juntar as malas e ir para Nashville, Tennessee, para gravar um álbum acústico. É sabido que Nashville é considerada a Meca da música country nos Estados Unidos, e Neil se cercou dos seus melhores amigos músicos para produzir um álbum digno da cidade em que pisava. Os temas abordados nesse álbum giram, inevitavelmente, ao redor da figura do pai de Neil e da percepção do músico de sua própria mortalidade. As letras revelam um toque de amargura e nostalgia nas palavras de Young. Em
The Painter, ouvem-se as palavras "If you follow every dream, you might get lost" ("Se você seguir todos os sonhos, você pode se perder"). Contudo, a instrumentação em
Prairie Wind é simplesmente deliciosa. Violões de aço são acompanhados por uma percussão simples e vira-e-mexe entra em cena o maravilhoso
pedal steel de Ben Keith, dando um toque country irresistivelmente confortável.
Neste álbum, Neil Young resgata seus sons mais simplórios que ganharam notoriedade em álbuns premiados como
Harvest (1972) e
After the Goldrush (1973). A veia country é explícita e Neil utiliza afinações em Ré para produzir canções simples, porém cheias de sentimento. A forte aversão de Young pela "era Bush" dos Estados Unidos se torna evidente em alguns momentos do álbum, mas o tema principal gira em torno do Canadá e suas pradarias ("prairies"). Em
Far From Home, o músico demonstra seu desejo de ser enterrado em sua terra natal, onde "os búfalos pastam na pradaria e os gansos canadenses preenchem o céu". Uma das músicas mais frágeis e explicitamente dedicadas ao pai de Neil é
Falling Off the Face of The Earth, uma canção singela de cortar o coração. Na faixa-título do álbum, o country cede um pouco de espaço ao folk rock, com a gaita tão famosa de Neil Young solando aqui e ali, acompanhada por um conjunto de metais. As notórias melodias vocais que se tornaram marca registrada do artista são beneficiadas pela beleza das vozes da convidada
Emmylou Harris e a esposa de Neil,
Pegi Young.
Minha canção queridinha desse disco é a quase clichê
Here for You. Nos dois primeiros segundos da música, já se sabe que se trata de uma música de Neil Young. O violão de aço acompanhado pela gaita e pelo
steel pedal evocam dias mais simples (os quais nem vivi, leia-se), uma atmosfera bucólica do interior norte-americano. A letra romântica não perde nem um pingo de seu charme devido a sua obviedade, sendo essa um ponto a mais. A canção se beneficia também de belas orquestrações de cordas em seu interlúdio até voltar a um solo saudoso de gaita de Young. É um convite sincero à não-reflexão, a uma bela espreguiçada e à admiração de uma atmosfera de pura beleza e paz.
Neil faz duas homenagens em especial nesse disco. A primeira é a um de seus violões, que já pertencera a
Willie Nelson, na calma canção
This Old Guitar. A segunda é uma homenagem descarada a
Elvis Presley, na canção
He Was The King: Neil canta "The last time I saw Elvis, he was riding a pink Cadiilac" ("A última vez que eu vi Elvis, ele estava dirigindo um Cadillac rosa") e muitas outras memórias são compartilhadas ao longo da canção.
A canção de encerramento de Prairie Wind é
When God Made Me. Aqui, ouvimos Neil ao piano, altamente reflexivo, numa música que pode ser rotulada como gospel sem medo algum. Um coro acompanha o músico nos refrões, enquanto os versos questionam a benevolência ou mesmo a consciência de Deus. Neil traz um questionamento ao Criador sem negar sua existência, em uma mensagem de reconciliação consigo mesmo. Tal canção encerra de forma digníssima o disco, de certa forma o resumindo os pensamentos do artista e os direcionando na forma de perguntas a Deus.
Aqueles que nunca tiveram a oportunidade de experimentar a beleza da música country tradicional têm meu sincero conselho de ouvirem esse disco, assim como os clássicos
Harvest e
After The Goldrush. Neil Young é um artista que pode não ser unânime, mas certamente não pode ser ignorado. Qualquer músico que produza um disco resgatando uma sonoridade com 40 anos de idade e que consiga fazê-la fresca e convidativa merece atenção e respeito. As atmosferas que permeiam
Prairie Wind o fazem um de meus "discos para uma ilha deserta" e não há motivos para um amante de boa música não apreciá-lo.
Aquele abraço,
Fazendeiro submarino
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