quarta-feira, 27 de março de 2013

Caravan - In The Land of Grey and Pink



















Título: In The Land of Grey and Pink
Artista: Caravan
Ano de lançamento: 1971
Gênero: Rock progressivo / Canterbury scene
Duração: 43:23


Tracklist:

1. Golf Girl (5:05)
2. Winter Wine (7:46)
3. Love To Love You (And Tonight Pigs Will Fly) (3:06)
4. In The Land Of Grey And Pink (4:51)
5. Nine Feet Underground (22:43)


O Caravan é uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos e o principal culpado disso é esse disco sobre o qual escrevo hoje. In The Land of Grey and Pink pirou totalmente minha cabeça e me apresentou em alto estilo ao subgênero do rock progressivo conhecido como Canterbury Scene. As bandas desse gênero da música têm em comum o fato de que se originaram na região do extremo sudeste da Inglaterra, mais especificamente na cidade de Canterbury, no final dos anos 1960 e começo dos anos 1970. Exemplos notórios, além do Caravan: Khan, Hatfield and the North, Soft Machine, Egg, Gong.
As bandas da cena de Canterbury eram notórias por fundir o jazz com o rock psicodélico e incluir elementos da música folk. O instrumento de destaque era o teclado e os temas tratados nas canções eram frequentemente cômicos ou irônicos, um espírito que invocava os históricos Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer. Um ponto atrativo de muitas dessas bandas e que ficou mais notório com Richard Sinclair do Caravan era o fato deste cantar as letras das canções com o sotaque britânico bastante visível, fato pouco encontrado na maioria das bandas britânicas mais famosas.
In The Land of Grey and Pink é o terceiro álbum de estúdio do Caravan. A banda a essa altura já era bastante conhecida ao longo da Inglaterra, França, Alemanha e Holanda e o disco antecessor, If I Could Do It All Over Again, I'd Do It All Over You havia sido muito bem recebido. O som do Caravan pode ser melhor descrito por mim como altamente agradável aos ouvidos. A combinação da voz grave e paterna de Richard Sinclair com os ritmos enérgicos e groovados da bateria de Richard Coughlan, mais as maravilhosas linhas de baixo e, por fim os solos de teclado do mestre David Sinclair formam o som bastante característico da banda. Existe a qualidade pastoral das músicas folk europeias, com flautas transversais, ao mesmo tempo há o forte elemento do jazz com ocasionais solos de saxofone e a atmosfera ganha um ar bastante psicodélico com os enormes solos de teclado. O Caravan se utiliza de uma estrutura própria, uma base de acordes quase que padrão sobre a qual os instrumentos solam livremente, dando às músicas uma duração prolongada.

No primeiro lado do disco, temos a abertura com a inocente Golf Girl. Uma frase de saxofone já no início mostra o tom idílico dessa bela canção. Uma letra um tanto nonsense discorre sobre uma garota vendendo xícaras de chá em um campo de golfe. O ritmo da música é muito gostoso de se ouvir, não exigindo nenhum esforço da mente do ouvinte.

Logo depois, temos a bela e bucólica Winter Wine, uma canção mais puxada para o folk, com maior presença do violão acústico até que entra uma hipnótica e groovada linha de baixo dando suporte a muitos solos de teclado. A canção quebra o clima quando se aproxima do meio de sua duração, até voltar ao seu habitual verso, lindamente cantado por Richard Sinclair. Uma ótima canção.

Love To Love You (And Tonight Pigs Will Fly) é uma tola canção de amor. E não é por isso que ela não deva ser sensacional. Temos uma bela e grudenta progressão de acordes tocada pela guitarra e piano sobre a qual a aguda voz de Pye Hastings canta bobas declarações de amor. Temos cowbell ao longo da música! (yeah!) Um delicioso solo de flauta transversal completa essa pequena peça de música que talvez não agrade ao ouvinte que procura uma grande obra prima de rock progressivo, mas que apela para a sensibilidade de qualquer um que saiba não se levar tanto a sério.

In The Land of Grey and Pink, a música-título, fecha a primeira metade do disco novamente com um toque folk, em cima de uma batida repetitiva e quebrada que se torna a marca registrada da canção. A letra aqui é uma atração à parte, sobre viagens fantásticas, terras psicodélicas e coloridas, muitas ervas a serem fumadas, enfim, um banquete a qualquer dedicado fã das obras de Tolkien. O piano e o violão são maravilhosos ao longo de toda a canção, tornando-a uma ótima experiência de audição.

A grande estrela e foco de toda atenção do álbum, no entanto, está no segundo lado do disco, e é a única canção dele (é bom lembrar que estou tratando em termos de LPs, onde cada lado do disco tinha um limite de duração), com impressionantes 22:43 de duração. Nine Feet Underground é, sem dúvida alguma, a obra-prima do Caravan e com a qual os fãs de rock progressivo certamente se dão muito bem. Um riff um tanto que misterioso de teclado dá início a essa enorme canção e se mantém por mais de 5 minutos. As primeiras palavras entoadas só aparecem depois do sexto minuto, sobre uma base bastante groovada, com uma de minhas linhas de baixo preferidas de todo o disco. Como toda boa música com mais de 20 minutos, temos também o momento de mais calma, sem percussão, que lentamente cresce até chegar nos sensacionais últimos 3 minutos da música com um riff de guitarra absurdamente contagiante, imitado pelo baixo e pelo teclado. Uma última jam furiosa liderada pelo teclado encerra essa longa viagem que mais parece ter sido apenas um passeio bastante agradável.

E é por isso que convido a todos a darem um passeio pela Terra do Cinza e Rosa e ouvir as belas atmosferas, letras e solos que o Caravan proporciona em um som que parece nunca ficar velho e nunca enjoar. Esse disco traz tudo do melhor da música inglesa, as belas melodias, a melancolia charmosa, o humor irônico e ácido e, lógico, a grande habilidade dos músicos da banda. Aos entusiastas do teclado, creio que David Sinclair talvez entre em suas listas de melhores tecladistas, porque na minha lista ele já tem lugar garantido já há um bom tempo.

Boa escutada e boa viagem!


Aquele abraço,
Fazendeiro submarino

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